TEXTO EM DESENVOLVIMENTO:
Os darśanas (ou pontos de vistas) surgem em um momento “crítico” naquela região, por causa das contestações expostas sobre a veracidade “doutrinárias” dos veda, apresentado em diferentes aspectos interpretativos posições contrárias sobre essa revelação sagrada, sendo-a “substituída” por doutrinas que avocava no devir de suas próprias ações: O Budismo, Jainismo e o materialismo de Carvaka (RADHAKRISHNAN, 1948, p. 271 – vol. I).
Estas seitas oriundas do período védico e/ou pós-védicos trazem algumas em suas estruturas racionais características elementares a cultura dos povos indianos principalmente aquelas que o identificam-se com os princípios “religiosos”, submersos as práticas de yogas, contemplações, meditações e etc. Nos primeiros períodos dos veda algumas dessas seitas “ameaçaram” indiretamente a verdade contida nessas revelações, pondo em xeque uma tradição reveladora da sabedoria.
Os darśanas ou pontos de vistas serão essenciais neste período. Batizados pelos nomes: Nyāya, Vaiseṣikha, Pūrva-Mīmāṃsā (Mīmāṃsā), Yoga, Sāṁkya e Uttara- Mīmāṃsā (Vedānta); cada uma dessas escolas mantinham em suas funções características diferentes de interpretações acerca da verdade. Era como um caminho de várias trilhas que ao final todos acreditavam terem chegados ao mesmo lugar.
Eis agora alguns elementos chaves que trazemos de forma resumida sobre cada um desses pontos de vista.
1) Escola Nyāya darśana - seu conceito filosófico é um realismo lógico aceitando uma realidade universal nos modos metafísicos[1]. Criada pelo pensador Gautama[2] é uma escola de características analíticas. De acordo com Mahadevan (1991, p. 92) essa escola quando se refere aos argumentos propriamente lógicos e perceptivos (meios dos quais alcançaríamos o Absoluto), carrega consigo características de um mundo extra mental correlacionados aos processos lógicos.
2) Escola Vaiseṣikha darśana – o método dessa escola é investigar as diferentes formas existentes entre todas as coisas. Fundada por Kaṇāda também conhecido como Kaṇabhuj ou Kaṇabhakṣa – essa escola baseia-se em interpretações de alguns eruditos. O nome Kaṇāda, segundo Mahadevan (1991, p. 108) significa “comedor de átomo”, referente à sua teoria atômica. Kaṇā significa em seu contexto maior como “grão de arroz”, bhuj ou bhakṣa “comer”. A escola (Vaiseṣikha)apresenta um dos pensamentos mais antigos da Índia. O seu sistema se comporta dentro do processo ao Nyāya com a relação da razão lógica no aspecto encarecidamente utra-sensível. As diferenças entre essas duas escolas são que a realidade para uma (a escola Nyāya) pode ultrapassar os limites sensíveis do homem; já para escola Vaiseṣikha a realidade não pode ser abstrata fora de um contato sensitivo ou senso comum. Seu termo sânscrito deriva da palavra Visena – forma que distinguem as diferentes realidades das coisas (RADHAKRISHNAN, 1948, p. 176 – vol. II).
3) Escola Sāṁkya darśana – uma escola de caráter dual com bases filosóficas predominantes na Índia desde momentos arcaicos, trazendo em seus conceitos os afloramentos dos desenvolvimentos filosóficos: pluralistas e realistas. As realidades aceitas no sistema dessa escola são duas: um conhecimento material (prakṛti) e outra: conhecimento espiritual (puruṣa). No Sāṁkya é lançado à noção de defesa do espírito que não pode ser percebido apenas pela experiência. Segundo os pressupostos filosóficos do Sāṁkya a essência de puruṣa é a consciência de uma natureza imaculável, amplamente separada da matéria “prakṛti”, uma realidade insensível(RADHAKRISHNAN, 1948, p. 254 – vol. II). O termo (Sāṁkya) significa (conhecimento discriminatório e enumeração), a fundação dessa escola é atribuída ao pensador Kapila[3], uma das figuras bastante veneráveis na Índia. Nasceu em Puṣkara e viveu aproximadamente entre os (séculos VII e VI a.C.). O seu sistema realista se completa no reconhecimento do mundo externo sobre aquilo que se encontra fora, e pode ser dada universalmente como base fundamental distinta de outra realidade (RADHAKRISHNAN, 1948, p. 333 – vol. II).
4) Escola Yoga darśana – Patañjali é aceito pela tradição como o precursor dessa escola por ensinar como controlar a mente. Com sintonia à natureza do homem essa escola é uma das mais populares e influentes da Índia. O que talvez venha diferenciar a sua categoria de origem diante das outras escolas ortodoxas é a credibilidade existente nesta escola pela fundamentação à interiorização do homem, principalmente pelos elementos técnicos contidos nela que faz o homem “dialogar” com sua própria alma através de técnicas práticas numa “conexão” que entra em frequência com a alma e o corpo. A união entre o espírito do homem e as energias vitais do corpo fundamenta uma das relações mais impactantes e importantes nesta escola, onde nenhum sujeito/ser desse universo poderia percebê-las estando fora dessa realidade, que de fato é a relação espiritual num conjunto de toda união com a natureza que produz a realização inesperada do eu, tendo em vista esse momento um principio de inquietação que automaticamente faz o sujeito desligar-se das incomodações inoportunas da vida, ou até mesmo, julgar todas essas manifestações fenomênicas presente e realizada nesse instante como integração da alma. É nela e através dela que o ser seria capaz pela prática de meditação se encontrar com o exercício da mente e do corpo, pela clareza e pela paz interior.
Mahadevan (1991, p. 130) em sua análise sobre essa escola completa essa afirmação dizendo o seguinte:
(...) a prática do yoga não ficou apenas com as tradições ortodoxas, se não também as chamadas heterodoxas, que estavam familiarizadas com as técnicas do yoga... os profetas jaina (tīrthaṇkaras), e o Buda eram adeptos e praticantes do yoga.
5) Escola Pūrva e Uttara -Mīmāṃsā – a escola da investigação Mīmāṃsā tem por objetivo decifrar todos os processos ritualísticos dos veda afirmando-as como autoridade única da Índia, diferentemente das outras escolas apresentadas como ortodoxas e ao contrário dos sentidos negativos naquilo que dizem a respeito dos veda pelos heterodoxos. As escolas Nyāya, Vaiśeṣika, Sāṅkhya e Yoga em suas funções não correspondem por bases aos veda, nas elaborações de “justificarem” suas visões de mundo. “Pūrva Mīmāṃsā” e “Uttara Mīmāṃsā”(vedānta)[4], são bastantes dissemelhantes dessas escolas, apenas nesta categoria, que também são āstika não só pelo nome mais pelas condições de investigarem o mundo baseados nos veda, são elas respectivamente solenes a todas as raízes dessa sabedoria, partindo dos quatros elementos védicos que formam o conjunto da verdade (Ṛg-veda, Yajur-veda, Sāma-veda e o Atharva-veda) até os mantras, brāhmanas, āraṇyakas e upaniṣads (RADHAKRISHNAN, 1948, pp. 374 a 443 – vol. II). São através das intepretações primeiras (Pūrva) que a filosofia védica inspiradas nas upaniṣad completa a resolução final (Uttara) dos veda. Jaimini foi responsável por organizar essas escolas, teria ele vivido no (século IV a.C.), seu primeiro trabalho de interpretação védica (400 a.C.), constam doze capítulos (adhyāya), divididos cada um em seções (pādas) e temas (adhikaraṇas), todos os temas precisamente seguem uma ordem como: i – fazer da oração védica uma investigação da alma; ii – combater tal dúvida (saṁśaya) com o significado correto da oração védica, seguindo (a) uma interpretação da sentença primeira (pūrva-pokṣa) e (b) uma refutação do que está sendo investigado; (c) – estabelecer a resolução final pelos fatos que foram apurados (nirṇaya).
Com isso poderíamos chegar à seguinte conclusão: a base do ensinamento e filosófico da Índia parte do princípio literário para um princípio da “razão” e da prática. O mestre no seu papel fundamental dentro das posições dialéticas apresentam ao seu futuro discípulo as possibilidades de experiências relativamente ligadas aos seus próprios momentos. “Sentar-se aos pés do mestre” seria uma tentativa de explicar que a obediência, respeito e atenção ao seu Guru e a tudo aquilo que está sendo ensinado são fundamentos que levam os homens a encontra o seu Eu.
Zimmer (1991, p.48) fala da necessidade em está ao lado de um mestre Guru, que segundo o mesmo é muito mais necessário de que se prender a livros e a textos.
O saber não devia apenas ser colhido nos livros, palestras, conversas e debates, mas dominado por meio da aprendizagem ao lado de um mestre competente.
Sendo assim, esses princípios como forma de mecanizar as organizações lógicas, subjetivando esse conhecer a uma universalização, causaria nesse sujeito uma espécie de encontro com o si mesmo. O mestre – Guru é a própria essência do conhecer: a vitalidade causal do homem perceber que por natureza ele não está fora do mundo, como também nem mesmo o mundo estaria fora dele.
Significando também, através de outras intepretações, que o discípulo (a figura central ao se tratar de aprendizagem das Upaniṣad) não será mais discípulo quando passar a conhecer o si mesmo, ele seria o próximo da sucessão de mestre a ensinar o que aprendeu.
Este tipo de ensinamento não poderia ser comparado como ideias dogmáticas, apesar de quê muitas dessas coisas se perderam por essa vertente. Apenas estamos falando de um tipo de conhecimento e ensinamento que liberta o homem dos juízos alheios. É dessa escola Uttara Mīmāṃsā a escola vedantina que Śaṅkara sustenta toda sua filosofia, a saber: a posição filosófica não dual.
[1] Compreendida nessa escola como aquilo que transcende a natureza das coisas ou aquilo que está além do plano físico.
[2] Pouco se sabe ao seu respeito, mas, o pouco é suficientemente para dizer que não se trata de Sidarta Gautama (o Budha).
[3] Falam que a cidade de Siddhārta Gautama o Buda – kapila-vastu foi fundada por inspiração desse sábio (MAHADEVAN, 1991, pp. 68-118).
[4] Uttara - Mīmāṃsā (Vedānta) não pode ser confundido como os textos védicos “āraṇyaka e upaniṣad” (MARTINS, 2012, p. 27).